Yaite Ramos Rodriguez aka La Dame Blanche foi abençoada com os genes da música através do seu pai Jesus “Aguaje” Ramos, um trompetista excepcional e o director artístico da Orquestra Buena Vista Social Club. De Cuba trouxe uma herança rica em melodias e ritmos quentes e dançantes, já pela Europa juntou-lhe o hip-hop, o dancehall ou o reggae. A 26 de Novembro estará presente no Vodafone Mexefest para um concerto imperdível!
1. Visto que és a filha de Jesus “Aguaje” Ramos, um trompetista excepcional e o director artístico da Orquestra Buena Vista Social Club, deves ter estado rodeada por alguns dos melhores músicos de Cuba, desde muito jovem. Qual foi a tua primeira experiência com a música?
O meu pai, Jesus Aguaje Ramos é um excelente trompetista, fundador e diretor musical da orquestra Buena Vista Social Club… Que orgulho! Desde sempre estive rodeada de música e de músicos que alimentaram os meus interesses. O ritmo e a melodia foram os primeiros brinquedos. A minha primeira experiência profissional foi no Cabaré de Pinar del Rio, o “El Criollo”, onde a realidade ganhou e ultrapassou as minhas ambições de ser uma jovem flautista de música clássica. Foi aqui que conheci a raiva e o prazer… Já tenho alguns anos de experiencia neste mundo de artistas, mas penso que tudo começou no dia em que compreendi que a vida não ia ser fácil. Em Cuba quando se decide ser musico, começas um percurso. No meu caso foi uma maratona, de 8 anos.
2. Quando pesquisamos pelo teu nome as primeiras coisas que nos aparecem são referencias uma figura mitológica do folclore europeu associada à destruição ou a uma opera francesa. Porque é que decidiste usar, La Da Blanche, como teu nome artístico, e como e quando é que começaste a tua carreira?
Conheço as travessuras da famosa Dame Blanche. Decidi chamar-me assim La Dame Blanche; pela elegância, força, espiritualidade e negritude que encontrei ao refugiar-me neste nome, pelo sorriso que as pessoas fazem quando me apresento; e porquê? Porque não?
3. Sem ser obviamente o teu pai, quais é que são as tuas maiores influencias?
O meu pai é uma fonte inesgotável de influencias, viver a seu lado foi uma escola para mim, mesmo pelos detalhes mais simples do quotidiano, ele conseguia inspirar-me. Mas não foi somente o meu pai, foi quase toda a minha família, os meus tios e tias artistas, e os amigos de casa.
4. Quando ouvimos a tua música, associamos as tuas letras a problemas sociais e a intervenções! O que te leva/inspira a escrever sobre estes temas?
Na minha música e letras há sempre uma anedota, um personagem, um lugar, guerras vencidas e perdidas. Sim, podemos chamar-lhe “problemas socias”. Mas a verdade é que o que mais me inspira não são os problemas, mas sim os personagens e a sua vivência, a minha gente, as pessoas, a sua historia! É quase como fazer justiça com uma armadura doce…
5. Um dos aspectos mais brilhantes da tua música, é a inclusão dos solos de flauta, que são completamente incríveis. Mas como é que uma pessoa com um background em flauta clássica (estudaste na Escola Nacional de Arte em Havana) e jazz acaba por ter um som único que combina cumbia, hiphop, reggae, dancehall e rap?
Muito obrigado. A flauta é uma velha amiga que apesar de ser caprichosa nunca me abandona. Digamos que ela vai sempre para onde eu for, e encontramos sempre um lugar para encaixa-la, pouco importa o estilo escolhido.
6. Como é que foi a experiência de trabalhar com o Marc babylotion Damblé e com o Emiliano Gomez? Levaram-te aos limites? Foram uma peça fundamental no teu processo criativo?
O meu primeiro disco chama-se PIRATAS, portanto a partir daí têm uma pequena noção de como é que eu, o Marc Damblé(BAYBYLOTION) e Emiliano Gómez (EL HIJO DE LA CUMBIA) nos sentíamos. Éramos os capitães de um barco e, apesar de navegarmos contra a maré aguentamos-nos ao leme. A minha criatividade é muito respeitada pela equipa, eles escutam todas as minhas ideias e desejos, ainda que não percam a oportunidade de me porem os pés bem assentes na terra.
7. No teu ultimo album, 2, tiveste um grupo de convidados de renome, como o Philipe Cohen-Solal dos Gotan Project, o Toy Selectah dos Control Machete, e o Flaco Nuñez dos Orishas! Como é que estas colaborações aconteceram? Foste tu que os convidaste ou foram eles que te abordaram?
Os convidados de “2”, foi um pouco de tudo. O Philipe Cohen-Solal dos Gotan Project é um amigo da casa com quem o BABYLOTION colabora em diversos projectos e adora La Dame Blanche. O Toy Selectah dos Control Machete é um amigo de Emiliano que aceitou o convite. Cristoval Nakeye, Flaco Nuñez, Bionik, Sergio León, Mambe, Joel Hirrezuelo, Jose Luis el niño e a Rachel Damble Ramos são meus amigos e família.
8. Conta-nos um pouco mais sobre a tua experiência enquanto backup singer em Sargento Garcia.
Sargento Garcia foi para mim um passeio inesquecível pelo mundo dos grandes cenários. Foi o inicio da ambição enquanto solista e foi, seguramente, a razão da miha vontade de seguir em frente. Hoje, Sargento Garcia e eu não vamos com a cara um do outro, mas não deixo de reconhecer que aprendi muitas coisas ao seu lado. A sua orquestra era uma explosão e sentia-me orgulhosa de fazer parte dela. Ele domina o publico com um grande talento e entrega-se ao máximo. Mais uma escola para mim, neste mundo.
9. Este ano tiveste sessenta espectáculos em dezasseis países diferentes, isso é espantoso! Qual é o teu sentimento de estares a conseguir espalhar a tua música por este mundo fora? Houve algum episódio mais caricato/engraçado/bizarro durante a tour?
É uma sorte única para mim levar a minha música, e a esperança que lhe está associada, a todo o mundo. Realmente fenomenal…. Foi um magnifico trabalho da agência Boa Viagem, que recompenso dando-lhes o meu melhor em qualquer parte do mundo. Tenho alguns episódios por causa do meu “Tabaco” que acaba sempre por impressionar alguém. Por exemplo em Abu Dabhi, foi um escândalo, porque apesar de ter sido prudente na forma de me vestir e de dançar, ficaram escandalizados com o meu “tabaco”
10. Foste um dos cabeça de cartaz da edição deste ano do Tom de Festa, portanto conheces um pouco do público português! Como é que foi esse concerto?
Em Portugal senti-me em casa, O publico aceitou-me muito bem e acabamos o concerto a dançar, a partilhar umas cervejas e os nossos contactos. No final, numa despedida muito carinhosa despedimo-nos com um até à próxima e não me esqueçam! Foi FENOMENAL….
11. O que é que podemos esperar do concerto no Mexefest? Alguma coisa especial planeada?
Para o concerto do Vodafone Mexefest proponho-lhes uma mistura dos meus álbuns, novas músicas acabadinhas de sair do forno ainda bem quentinhas, e uma ideia do meu estado de animo. Nos concertos, a La Dame Blanche impõe-se com um passo firme e com um grande desejo de desfrutar o momento. O meu objectivo principal com este concerto é conseguir levar-vos a viajar por um mundo sem fronteiras com uma agradável sensação de liberdade, irmandade, beleza e frescura, onde a alma controla todos os movimentos do corpo.
12. O que nos pode contar do teu próximo álbum?
O meu próximo disco vai despertar com muitas cores. Quero roubar o dançarino que há em cada pessoa. Com essa melancolia que me caracteriza, falam personagens muito matreiras e as minhas letras saem com uma poesia simples, directa, irónica e gozona. Espero que gostem tanto como eu… E que Deus assim o queira.
Adriana Lisboa e Lúcio Roque